Abadia de Barford

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O bisavô de Downton Abbey e uma grande influência para Jane Austen!

Abadia de Barford traz Fanny Warley, uma bela e educada órfã. Desde o seu nascimento ela fora criada por Mrs. Whitmore, uma parente distante, mas, quando Mrs. Whitmore morre, ela perde a única referência familiar. Sem parentela e sem casa, ela é convidada para passar seu luto em Hampshire, na casa do antigo mordomo dos senhores da Abadia de Barford, Sir James e lady Powis. Cheia de atrativos internos, Miss Warley logo ganha a confiança de lady Powis e constantemente é hóspede na Abadia. Lá ela conhece lorde Darcey, pupilo de Sir James, para quem seu coração se inclina, mas lorde Darcey, por uma promessa feita ao seu pai no leito de morte, apenas se casaria com uma rica herdeira.

Uma obra epistolar, na qual os dramas de Miss Warley são contados por cartas à lady Mary Sutton, que está na Alemanha; e os sentimentos de lorde Darcey são narrados a um amigo, que está em Londres.

Ficção de abadia

Um segredo envolvendo o passado de Miss Warley – segredo que ela sequer imagina – é guardado sob promessa, uma promessa feita no dia de um casamento clandestino, por lady Mary Sutton, pelo reitor que presidiu a cerimônia, pelo velho mordomo aposentado dos senhores da Abadia de Barford e sua fiel esposa, e pelo casal envolvido; mas, com a morte de Mrs. Whitmore, esse passado emergirá.

Esta é uma deliciosa obra epistolar, que inaugura o que os editores chamam de “ficção de abadia”. Abadia de Barford oferece uma compreensão mais profunda do romance inglês nos anos de transição de Fielding, Richardson e Sterne para Frances Burney e Austen.

Quem foi Susannah Minifie Gunning?

Foi uma escritora prolífica, mas pouco conhecida, com uma história fascinante e escandalosa, cujos romances inspiraram autores que conhecemos, como Frances Burney e Jane Austen.

Cada dia me surpreendo mais e descubro que nada sei sobre esse vasto mundo da literatura clássica inglesa, tampouco sobre Jane Austen. Penso, na verdade, que sabemos muito pouco sobre a autora, já que a maior parte de suas cartas foram queimadas pela família.

Por que estou falando em Austen numa obra de Susannah Minifie Gunning? Porque, até então, eu nunca tinha lido nada sobre a influência de Gunning na carreira de Austen. Como ficou óbvio para mim, ao ler Abadia de Barford saiba mais, lançado em 1768, que Jane Austen navegou nestas páginas, fui à procura de evidências bibliográficas que comprovassem tal veracidade, já que o fato eu havia encontrado – acidentalmente.

Abadia de Barford é considerado o bisavô de Downton Abbey, pois é um dos primeiros romances do chamado “novo gênero de ficções envolvendo abadias”.

Por que afirmo que Austen leu Abadia de Barford?

Pelo estilo da escrita de Gunning, pelo personagem principal masculino chamado lorde Darcey, por uma infinidade de lampejos que, amarrados, fogem de uma simples coincidência. Um nome tão parecido com Darcy, uma fala inteira em que lorde Darcey expressa um pensamento – que foi maldito –, e essa fala ofende uma certa senhorita, que se sente menosprezada por ele… estou falando de Abadia de Barford e não de Orgulho & Preconceito; “coincidentemente” isso está nas duas obras.

O mote é o mesmo: um rico cavalheiro diz uma coisa impensada e colhe as consequências no decorrer da trama. Lemos o mesmo em Evelina, de Frances Burney (1752–1840), na pessoa de lorde Orville. E sabemos que lorde Orville foi o “modelo” para Mr. Darcy de Jane Austen (1775–1817). Então, se conclui que Burney também pode ter lido as obras de Susannah Minifie Gunning.

Depois de me deparar com a obra de Susannah Gunning, fui à procura de evidências bibliográficas. Não achei muito material comprovando tal referência – ou tais referências –, mas encontrei alguns pesquisadores que afirmam que A Casa de Campo (The Cottage), um romance epistolar publicado em 1769, de Susannah Gunning, foi lido por Jane Austen e a influenciou não somente em Orgulho e Preconceito e Lady Susan, mas também em Emma.

Mas quem foi Susannah Minifie Gunning? O que se sabe sobre ela não é muito, mas sabemos que era filha de um clérigo de Somerset, que nasceu entre 1739 e 1740 – não se sabe exatamente a data – e que foi a autora pioneira a escrever sobre abadias. Minha avó sempre me dizia que, onde há fumaça, há fogo! Confesso que estou orgulhosa de minha percepção, já que notei a semelhança antes de saber qualquer coisa sobre a influência de The Cottage nas obras citadas acima.

E se Austen leu The Cottage, muito provavelmente leu Abadia de Barford, já que foi lançada um ano antes. “Em The Cottage, o leitor é capaz de traçar paralelos distintos com a obra de Jane Austen. Embora tenha sido escrito mais de vinte anos antes de Orgulho e Preconceito, e mais de quarenta anos antes de Emma. Sim, ​​é possível que Jane Austen tenha sido influenciada pelas romancistas de outra geração, sendo uma delas Susannah Gunning.

The Cottage traz a alta sociedade inglesa e a busca por fazer um bom e lucrativo casamento e dinheiro. Ao olharmos o enredo de The Cottage, encontramos muitas semelhanças com Orgulho e Preconceito e até Emma, ​​portanto, podemos dizer que Susannah influenciou Jane Austen.

No início do século XVIII não havia romances como os de Susannah. No fim, romances desse tipo estavam sendo publicados em toda parte; não em dezenas, mas em centenas […] a história do crescimento do romance foi rápida, pois, em alguns aspectos, não foi mais do que a adaptação ou a fusão de outras formas literárias bem amadurecidas.

Considerando essa ‘explosão’ literária no mercado, devemos nos perguntar o que os primeiros escritores, como Susannah Gunning, fizeram para influenciar os posteriores, como Jane Austen? A maioria dos romances durante a metade do século XVIII trazia temas como: sensibilidade, virtude e sentimento; e com as mulheres leitoras sendo a maioria.

Obras epistolares

Susannah Gunning viveu e se socializou com a sociedade londrina, casou-se com o filho de um visconde, cujas irmãs se moviam em círculos elegantes da corte. A alta sociedade é o elemento refletido tanto em Abadia de Barford quanto em The Cottage. Trazem os “cavalheiros do campo”, cuja “benevolência está vinculada às suas propriedades”. “Esse enredo foi ressonante no que Jane Austen criou em seus romances com famílias em uma aldeia rural. No entanto, também se sabe que este era o tema de
Susannah”.

Abadia de Barford e The Cottage são epistolares, como Lady Susan, de Austen. Há bastante semelhança entre a personagem Miss Arbington, de The Cottage, e a Harriet criada por Austen. Por meio de várias cartas ficamos sabendo que Miss Arbington desapareceu porque caiu de amor por um homem chamado Mr. D——. No entanto, ela está sujeita à infeliz circunstância de ser forçada por seu tio a se casar com seu “primo detestável”, uma perspectiva que Elizabeth Bennet também enfrentou com Mr. Collins.

“Assim, cada autora coloca sua heroína em difícil posição desde o início, permitindo que o leitor impatize com elas”. No entanto, o amor entre Mr. D—— e Miss Arbington é muito mais sentimentalista, pois ele a descreve como “boa demais e bonita demais”, considerando que, em Orgulho e Preconceito, Mr. Darcy é menos glamourizado quando descreve Elizabeth como “não bonita o suficiente para me tentar”.

Portanto, a questão de saber se Jane Austen foi influenciada por Susannah é incontestável. Os marcantes trechos das propostas e recusas de casamento com seus primos, como acontecem em The Cottage e Orgulho e Preconceito, são, segundo Steeves Harrison, que escreveu a obra Antes de Jane Austen (George Allen & Unwin LTD, 1965), mais uma prova de que Austen pelo menos leu a obra de Susannah Gunning.

“No entanto”, continua ele, “os temas casamento, dinheiro e classe parecem ressoar em muitos outros textos do período anterior bem antes de Susannah, desde a virtuosa Pamela, de Samuel Richardson (1689–1791)”, que começou a escrever em novembro de 1739, ano em que Susannah nasceu, e publicou um ano depois, “até o Romance da Floresta, de Radcliffe (1764–1823), em que Adeline também tem semelhanças com as heroínas de Susannah Gunning e de Austen”. Na verdade, é uma corrente, um autor
deixa seu legado à reflexão de outro, e quem se beneficia com tudo isso é o leitor.

É óbvio que Austen, ao escrever sobre os mesmos temas e possuir personagens semelhantes aos de Gunning em Orgulho e Preconceito e Emma, “aperfeiçoou e assumiu a liderança a fim de fornecer uma crítica válida da sociedade da qual tão graciosamente apresentou seus trabalhos. Alguém poderia dizer que Austen reformulou o romance social”. Jane Austen saiu da área do ‘romance de boas maneiras’, uma vez que sua preocupação era com a conduta pessoal em vez da moda, e forneceu uma razão para um novo termo descritivo – o “romance de sátira”. Lembrando que a precursora em romances de sátira foi Frances Burney, comprovadamente a maior influência para Austen; e a precursora do romance sobre conduta pessoal, também grande influenciadora do estilo Austen, foi Maria Edgeworth (1768–1849), ambas enaltecidas por Jane Austen em A Abadia de Northanger.

Finalizando, os predecessores de Austen, como Susannah Gunning, Richardson, Burney, Edgeworth e Radcliffe, forneceram um modelo sobre o qual ela poderia colocar sua própria marca e fornecer aos leitores um discurso discreto, espirituoso e uma crítica perspicaz da sociedade. Sem os romances menos conhecidos como The Cottage, Austen poderia não ter tido uma tela para trabalhar, expandir e, finalmente, mudar a cara do romance.

Irlandesa, que viveu na mesma época de Radcliffe, cuja obra rivalizou com Os Mistérios de Udolpho

Mas em relação a uma coisa não há contestação, a mãe do romance sobre abadias é Susannah Gunning, com Abadia de Barford. A outra escritora que conhecemos que também trouxe uma obra-prima sobre uma abadia – Os filhos da Abadia, ou Oscar e Amanda, lançado em 1796, vinte e oito anos depois de Abadia de Barford – é a escritora irlandesa Maria Regina Roche (1764–1845).

Abadias em ruínas, ou aquelas transformadas em casas para os ricos, apareceram com bastante frequência nas poesias e nos romances no final do século XVIII e início do século XIX, mais famosas nas obras de Jane Austen, William Wordsworth, Byron e Roche, citada acima. Muito antes desses escritores, no entanto, Susannah Minifie Gunning reconheceu a utilidade de um cenário de abadia para levantar questões complicadas sobre o caráter social, econômico e político da cultura inglesa. E se você é um fã de Jane Austen, saiba que Susannah Minifie Gunning é um dos antepassados ​​literários dela.

(Este texto continua na introdução de Abadia de Barford, livro exclusivo para os
assinantes do www.pedrazuleditora.com.br)

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