FRANCES BURNEY, A AUTORA QUE MAIS INFLUENCIOU O ESTILO JANE AUSTEN

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Frances Burney, ou Fanny, posteriomente Madame d’Arblay (13 de junho de 1752 a 6 de janeiro de 1840)

Burney escreveu cinco romances completos, mas um deles, A História de Caroline Evelyn, foi destruído pela autora, em 1767. Evelina: Ou a história da entrada de uma jovem no mundo, lançado em 1778, foi de onde Jane Austen retirou “modelo” para Mr. Darcy na pessoa de lorde Orville. Cecilia: Ou, Memórias de uma Herdeira, lançado em 1782, foi onde Austen retirou o título para sua obra mais famosa, Orgulho e Preconceito. Camilla: Ou, Uma imagem da juventude, em 1796, e depois revisado, 1802, foi citado por Austen em Emma. E por último, A Andarilha, ou Dificuldades Femininas, em 1814, “uma história de amor e má aliança ambientada na Revolução Francesa”, que a autora critica, por experiência própria, o tratamento dado pelos ingleses aos estrangeiros nos anos de guerra.

Ao todo ela escreveu quatro romances lançados, oito peças de teatro, uma biografia e vinte e cinco volumes de diários e cartas. Ela ganhou o respeito da crítica por seus próprios méritos, e influenciou não somente Jane Austen, mas também Thackeray e muitos outros.

EVELINA

Terceira edição da Pedrazul

Ela publicou seu primeiro romance, Evelina, anonimamente, em 1778. Ela temia que seu pai encontrasse o que ela chamava de “rabiscos”, então só contou a seus irmãos e duas tias de confiança. Sua irmã mais próxima, Susanna, ajudou a encobrir o segredo. Posteriormente, seu pai leu o romance e adivinhou que ela era a autora e a notícia de sua identidade se espalhou. O romance trouxe a Burney fama quase imediata com sua narrativa única e pontos fortes cômicos. Ela seguiu com Cecilia, em 1782, Camilla, em 1796, e A Andarilha, em 1814.

A VIDA DA ARISTOCRACIA

Joseph Nickolls 1713–1755

Todos os romances de Burney exploram a vida dos aristocratas ingleses e satirizam as suas pretensões sociais e fraquezas pessoais. Embora seus romances tenham sido extremamente populares durante sua vida, sua reputação como escritora de ficção sofreu após sua morte nas mãos de biógrafos e críticos, que sentiram que os extensos diários, publicados postumamente em 1842-1846, ofereciam um retrato mais interessante e preciso da vida do século XVIII. Hoje, os críticos voltaram aos seus romances e peças com interesse renovado na sua visão sobre a vida social e as lutas das mulheres numa cultura predominantemente masculina. Os estudiosos também continuam a valorizar os diários de Burney, pelas suas representações sinceras da sociedade inglesa, que ela mostra em todos os seus livros. Em A Andarilha, talvez por estar morando na França, longe “da sociedade”, ela ousou criticá-la, motivo pelo qual essa mesma sociedade “boicotou” seu último livro.

ADMIRADORES FAMOSOS

Edmund Burke (1729-1797)

Burney tinha admiradores famosos, como Samuel Johnson, Edmund Burke e muitos outros. Seus romances foram lidos e apreciados por Jane Austen, cujo título Orgulho e Preconceito deriva das páginas finais de Cecília. Diz-se que Thackeray se baseou, no relato em primeira pessoa da Batalha de Waterloo, registrado nos diários de Burney, para escrever sobre a batalha em Feira das Vaidades.

CURIOSIDADES SOBRE A AUTORA

Curiosidade 1: Ela sustentou a si mesma e a sua família com os lucros de seus romances, Camilla e A Andarilha.

Curiosidade 2: A mãe de Frances Burney, Esther Sleepe, descrita pelos historiadores como uma mulher de “calor e inteligência”, era filha de um refugiado francês chamado Dubois e foi criada como católica. Esta herança francesa influenciou a autopercepção de Frances Burney mais tarde na vida, possivelmente contribuindo para sua atração e posterior casamento com Alexandre d’Arblay.

Curiosidade 3: Ela conheceu o Dr. Johnson, de quem Jane Austen era grande fã, na casa de seu pai em março de 1777, um ano antes de lançar anonimamente Evelina.

Curiosidade 4: Ela amava escrever em seu diário. A primeira anotação em seu diário foi datada de 27 de março de 1768 e dirigida a “Ninguém”. Ela manteve esse diário por toda a sua vida, mas destruiu grande parte do material.

Curiosidade 5: Burney tinha 15 anos quando seu pai se casou novamente, em 1767. As anotações de seu diário sugerem que ela começou a se sentir pressionada a abandonar sua escrita como algo “pouco feminino”, que “poderia irritar a Sra. Allen”, a nova esposa. Ela, portanto, queimou seu primeiro manuscrito, A História de Caroline Evelyn, que ela havia escrito em segredo. Apesar desse repúdio, Frances registrou em seu diário um relato das emoções que levaram àquele ato dramático. Ela finalmente recuperou parte do esforço, usando-o como base para seu primeiro romance, Evelina, que segue a vida da filha fictícia de Caroline Evelyn.

Curiosidade 6: Evelina foi lançado em 1778 de forma anônima, em três partes. A segunda tentativa de publicá-lo, em 1779, envolveu o conluio de seu irmão mais velho, James, que se passou por seu autor. Inexperiente em negociações com um editor, ele extraiu apenas vinte guinéus (£ 21), menos de R$ 150,00 reais hoje, como pagamento pelo manuscrito. O romance foi um sucesso até entre autores famosos, como o crítico Dr. Jonhson e Edmund Burke. Foi admirado por sua visão cômica da rica sociedade inglesa e pelo retrato realista dos dialetos da classe trabalhadora de Londres. É conhecido hoje como uma sátira. O pai de Burney leu as críticas públicas sobre o livro antes de saber que a autora era sua filha.

Curiosidade 7: Uma amiga de Burney, Anna Laetitia Barbauld, a escreveu, em 1813, encorajando-a a publicar seu romance A Andarilha nos Estados Unidos, onde seu trabalho, incluindo Cecilia, era “popular”.

Curiosidade 8: No ano de 1786, já uma autora famosa, com 34 anos e ainda solteira, Burney foi indicada, por uma pessoa influente, à Corte do Rei George III e da Rainha Charlotte, ocasião em que a rainha a convidou para ser uma das Guardiãs das Vestes da Rainha, com um salário de £ 200 por ano, equivalente a R$ 1.270,00 hoje. Ela hesitou, pois temia não ter mais tempo para escrever. Mas aceitou e desenvolveu um relacionamento caloroso com a rainha e as princesas que durou até seus últimos anos. Entretanto, suas dúvidas se mostraram corretas: o cargo a esgotou e lhe deixou pouco tempo para escrever. Na Corte ela teve problemas de relacionamento com uma colega, Juliane Elisabeth von Schwellenburg, co-Guardiã das Vestes, que foi descrita em seu diário como “uma pessoa idosa rabugenta, de temperamento incerto e saúde debilitada, envolta na lona da etiqueta dos bastidores”.  Ela saiu da Corte por iniciativa própria, em 1790, e continuou a receber uma pensão anual de £ 100. Ela manteve amizade com a família real e recebeu cartas das princesas de 1818 a 1840.

Rainha Charlotte (1744-1818). National Trust, Hatchlands; Supplied by The Public Catalogue Foundation

Curiosidade 9: A Revolução Francesa começou em 1789 e foi até 1799. Durante estes 10 anos ela conheceu alguns exilados franceses conhecidos como “Constitucionalistas”, que fugiram para a Inglaterra em agosto de 1791 e viviam perto de onde morava sua irmã Susanna. Ela rapidamente se aproximou do general Alexandre d’Arblay, um oficial de artilharia que havia sido ajudante-geral de Lafayette, um herói da Revolução Francesa, cujas opiniões políticas estavam entre as dos monarquistas e as dos republicanos. D’Arblay ensinou-lhe francês e apresentou-a à escritora Germaine de Staël.

Curiosidade 10: O pai de Burney desaprovava a pobreza, o catolicismo e o status social ambíguo de d’Arblay como emigrado. No entanto, ela e d’Arblay se casaram em 28 de julho de 1793. É digno de nota a maneira como Burney empregou suas habilidades de escrita, na Revolução Francesa, em nome da tolerância e da compaixão humana. Em 18 de dezembro de 1794, Frances deu à luz um filho, Alexander Charles Louis (falecido em 19 de janeiro de 1837), que se tornou um pároco.

Curiosidade 11: Os recém-casados foram salvos da pobreza em 1796 pela publicação do “romance de apoios”, como no Catarse atualmente: Camilla, ou um Retrato da Juventude, uma história de amor frustrado e empobrecimento. A primeira edição esgotou; ela ganhou £ 1.000 com o romance e vendeu os direitos autorais por mais £ 1.000. Isso foi suficiente para construir uma casa que chamaram de Camilla Cottage.

Camilla Cottage, casa de Frances Burney com o General Alexandre D’Arblay, de 1797-1801

O CONTEXTO DE ESCRITA DE A ANDARILHA

Iniciado na Inglaterra em 1790, ela levou 14 anos para escrever, e o lançou em 1814. Notamos aqui um espaço de 24 anos, portanto, o que ela fez em 10 anos?

Em 1801, foi oferecido a d’Arblay um trabalho no governo de Napoleão Bonaparte, na França, e em 1802 Burney e seu filho o seguiram para Paris, onde esperavam permanecer por um ano. A eclosão da guerra entre a França e a Inglaterra ultrapassou a sua visita e eles permaneceram lá no exílio durante 10 anos. Em agosto de 1810, Burney sentiu dores nos seios, que seu marido suspeitou que pudessem ser causadas por câncer de mama. A descrição dessa mastectomia, um relato de uma terrível cirurgia em Paris, uma carta, de 1812, à sua irmã Esther, está nas páginas finais de Cecilia. Em 30 de setembro, de 1811, ela foi submetida a uma mastectomia, sem anestesia, realizada por “sete homens de preto”, como ela relatou em sua carta. Burney, portanto, descreveu a operação em detalhes, já que ela estava consciente durante a maior parte dela, quando não perdia o sentido pelo dor excruciante. Continua sendo um dos primeiros relatos mais convincentes de uma mastectomia. É impossível saber hoje se a mama removida era realmente cancerígena. Ela sobreviveu e voltou para a Inglaterra com o filho, em 1812, para visitar o pai doente e evitar o recrutamento do jovem Alexandre para o exército francês. Charles Burney morreu em 1814, e ela voltou para a França no final daquele ano, após a conclusão do Tratado de Paris, para ficar com o marido. Ela publicou A Andarilha pouco antes da morte de seu pai. O livro foi dedicado ao pai e a Pedrazul Editora trouxe essa dedicatória.

A descrição dessa mastectomia, um relato de uma terrível cirurgia em Paris, está nas páginas finais de Cecilia

A ANDARILHA É “UMA HISTÓRIA DE AMOR E MÁ ALIANÇA AMBIENTADA NA REVOLUÇÃO FRANCESA”

A ANDARILHA, Ou Dificuldades Femininas

Um romance histórico, com conotações góticas, que conta a história de uma mulher misteriosa que tenta se sustentar enquanto esconde sua identidade.

Uma mulher sem nome, conhecida apenas como A Andarilha, foge da Revolução Francesa, do Reino do Terror, para a Inglaterra, onde se encontra sozinha, sem amigos e sem meios para se sustentar. Ela tenta se tornar autossuficiente, mas sua história revela as dificuldades de uma mulher em sua situação.

Com foco nas dificuldades que as mulheres enfrentaram para conquistar a independência, A Andarilha faz parte de um novo gênero de literatura que surgiu do tumultuado período que se seguiu à Revolução Francesa, no qual os autores examinavam os eventos do passado por meio da ficção, e foi parcialmente influenciado pelo tempo em que Frances Burney ficou exilada na França.

CRÍTICA A SOCIEDADE INGLESA

Em A Andarilha, Burney critica, POR EXEPERIÊNCIA PRÓPRIA, o tratamento dado pelos ingleses aos estrangeiros nos anos de guerra.

O livro começa com um grupo de pessoas fugindo da França. Entre elas está a protagonista, que a princípio esconde sua identidade. Ela chega à Inglaterra, mas ninguém pode colocá-la socialmente, até mesmo sua nacionalidade e raça estão em dúvida. Ao longo da obra, Burney comenta sobre o poder tirânico que os ricos têm sobre os pobres na Inglaterra, mostrando como os ricos aceitam aulas de música da Andarilha, mas se recusam a pagar por elas, colocando-a em uma situação desesperadora. Burney também mapeia a espiral decadente da protagonista, da nobreza à mulher trabalhadora – ela começa como musicista e desliza para posições menos respeitáveis.

Portanto, em A Andarilha, Burney não poupou a aristocracia britânica, o que causou muitas revoltas de pessoas que se viram retratadas nas páginas “daquela autora que tinha virado francesa”.

A Andarilha tem um quê do gótico, diferente das demais obras da autora. Alguns críticos literários levantaram a hipótese de que alguns enredos deste livro tiveram inspiração nos primeiros romances de Helen Craik, que ela poderia ter lido na década de 1790.

Burney morreu aos 88 anos, tendo sobrevivido ao marido, ao filho, e parte das irmãs. Ela foi enterrada com o filho e o marido no cemitério Walcot, em Bath. Mais tarde, uma lápide foi erguida no cemitério de St Swithin’s, do outro lado da estrada, adjacente à do pai de Jane Austen, George Austen.

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