Por Maioli
A vida polêmica de Wilkie Collins é um capítulo à parte da história da literatura romancistas. Essa forma, no mínimo diferente, de levar a vida trouxe caráter único a seus livros, transformando-os em verdadeiras obras autobiográficas!
Podemos começar esse post dizendo o quão impressionante Collins foi para os escritores após a era vitoriana. Podemos falar que ele foi o criador do romance policial, ou que era amigo de Charles Dickens , Elizabeth Gaskell e Adelaide Anne Procter. Podemos comentar também da sua habilidade em escrever para diferentes áreas, criando 27 romances, mais de 50 contos, mais de 15 peças teatrais e 100 peças de não-ficção. Entretanto, queremos saber mesmo é da vida pessoal do autor para entender mais afundo suas obras!
O Blog da Pedrazul Editora não se contenta em levar aos nossos leitores fiéis um conteúdo descritivo. Você vai ver nesse post curiosidades sobre a vida de Wilkie Collins, as suas obras mais famosas e como elas se refletem em sua vida pessoal.
A vida de William Wilkie Collins é, no mínimo, bem interessante. Por isso, vamos começar falando de 4 curiosidades do autor em ordem cronológica para que você entender o quão grandioso e maluco foi um dos maiores escritores da era vitoriana.
4 curiosidades sobre Wilkie Collins
William Wilkie Collins foi um cidadão com costumes bem diferentes dos demais homens de sua época. A sua criatividade exacerbada e a riqueza descrita a cada personagem são, sem dúvida, pautadas nas suas experiências pessoais. Desde muito cedo, Collins viajou para outros países em busca de algo mais e encontrou, dentro de sua mente, o tormento que só passava ao descansar os pensamentos no papel.
A seguir, você vai encontrar 4 curiosidades em ordem cronológica que fará você entender um pouco mais desse grande escritor. Confira!
Itália
O filho mais velho do paisagista e pintor de retratos William Collins, Wilkie Collins teve uma experiência importantíssima quando seus estudos na escola Maida Hill Academy foram interrompidos por dois anos. Junto do seu pai e do irmão mais novo, Charles, a família Collins morou na França e Itália entre 1836 e 1838.
Mas por que este título se reduz somente à Itália? Simples. Foi lá que Wilkie Collins teve as experiências mais relevantes. Não vamos dizer que de toda a sua porque, bem, você vai entender no decorrer do texto. Entretanto, foi no país da bota que ele aprendeu mais com as paisagens, pessoas e a arte do que em qualquer escola, segundo ele mesmo.
E se a capital italiana escrita de trás para frente é lida como “amor” em português, então encontramos tal semelhança para a vida de Collins. Foi em Roma que o escritor romancista se apaixonou pela primeira vez, aos 12 anos de idade.
Bullying
Depois que voltou da Itália, Wilkie Collins foi estudar em um colégio interno. Foi lá que ele despertou a sua paixão por histórias. Porém, não de um jeito muito saudável. Acontece que no seu dormitório havia um valentão que praticava bullying.
Para acalmar a fera, Collins começou a sua carreira como contador de histórias. Se não fosse por ele, talvez nunca teríamos visto obras como A Mulher de Branco. Mais uma prova de que os acontecimentos ruins vêm nos ensinar a ser melhores, e Collins aprendeu cedo a converter a maldade em obras-primas.
Aprendiz de comerciante
Wilkie Collins deixou a escola em 1841 e foi trabalhar como aprendiz de comerciante de chá em Stand. Ele gostava tanto do lugar que o apelidou de “Prisão de Stand”. Foi lá, cercado de teatros, tribunais, bares e do jornal, que Collins escreveu sua primeira publicação assinada. Denominada de The Last Stage Coachman, o até então aspirante a escritor teve o seu texto publicado na revista Illuminated Magazine em agosto de 1843.
Nunca exerceu sua profissão de formação
A escrita reverberava no âmago de Collins. Entretanto, mesmo tendo o texto publicado na Illuminated Magazine, Wilkie Collins decidiu seguir outro ramo de formação. Em 1846, tornou-se estudante de Direito em Lincoln’s Inn e foi chamado para a ordem dos advogados em 1851. Todavia, ele nunca exerceu a profissão.
Mesmo que não tivesse o Direito como redentor de sua carreira, Collins sempre se utilizou do conhecimento na área para aplicar em suas obras. Foi dessa forma que conduziu uma narrativa diferente e revolucionária para a época vitoriana, deixando cada personagem conduzir a história durante uma parte do livro, como se fosse realmente um julgamento, cabendo apenas ao leitor o papel de juiz ao fim da obra.
As loucuras de Wilkie Collins ou Sr. William Dawson?
A vida polêmica de Wilkie Collins realmente deixa qualquer um boquiaberto. Se falassem que ele é um personagem de livro, seria totalmente aceitável. Quando o introduzimos no século XIX então, percebemos o quanto sua vida era uma verdadeira loucura!
Comecemos pelo fato de que o escritor manteve relacionamento com duas mulheres ao mesmo tempo. No papel, Collins não era casado com nenhuma. Entretanto, cativou as duas senhoritas até o fim de sua vida, com um pequeno intervalo. Se isso é difícil de imaginar hoje (estamos falando de construir uma família!), imagina em 1800 e lá vai bolinha?
A primeira com quem se casou, e que era realmente conhecida como sua mulher, foi Caroline Graves. Ela era uma viúva e sua história de vida é horripilante. Como ótimo escritor e conhecido por aplicar em seus livros parte de sua autobiografia, Caroline Graves é a musa inspiradora de um livro muito famoso de Collins, do qual vamos destrinchar essas nuances mais abaixo! Se não aguentar a curiosidade, tudo bem, pode dar uma olhadinha. Mas volte para continuar a leitura, hein!
A segunda mulher da vida de Wilkie Collins foi a cuidadora da mãe do escritor. Eles se conheceram em 1864 sob essas circunstâncias. A menina de 19 anos se chamava Martha Rudd, enquanto Collins tinha 40. A diferença de idade não impediu que o amor florescesse. A ousadia (ou seria cara de pau?) de Wilkie Collins foi tanta que o já renomado e rico escritor construiu uma casa (!!!) a uma distância curtíssima de onde residia com Caroline Graves. Para não causar (mais) polêmica, Collins e Martha assumiram a identidade de Sr. e Sra. William Dawson.
Separação e convivência
Obviamente, ao descobrir a traição do marido, Caroline Graves se separou do escritor romancista. Caroline casou-se com Joseph Cow e, não tão obviamente assim, Collins estava presente na cerimônia. Esse cara não cansa de me surpreender…
Mas calma que ainda tem mais! Martha e o renomado escritor tiveram três filhos, herdando o sobrenome William Dawson ao invés de Collins. Três anos depois de se casar, Caroline Graves se separa e retorna à casa de Collins, onde convive com o escritor até a sua morte.
A arte imita a vida de Wilkie Collins
Vimos que Wilkie Collins tinha uma vida bem agitada! Esse é um dos motivos de Collins refletir tanto a sua vida nos livros, que os torna em verdadeiras obras autobiográficas. Você acompanhou acima algumas das façanhas de Collins. Agora, vamos destrinchá-las e aplicá-las em suas obras, enxergando mais facilmente como as experiências pessoais do autor influenciaram nos livros de romance mais populares do mundo.
A Mulher de Branco
Sabe aquela mulher, Caroline Graves? Então, ela foi a inspiração para Collins criar A Mulher de Branco, um dos livros mais famosos do autor. Sobre o livro, nem preciso citar que é genial, mas que torna essa obra autobiográfica é igualmente impressionante.
Numa noite fria de 1858, Wilkie Collins, seu irmão mais novo Charles e o pintor Millais voltavam para casa. Foi quando, de repente, tudo aconteceu. Eles foram abordados por uma mulher vestida com túnicas brancas esvoaçantes escapando de uma vila em Regent’s Park. A mulher era nada mais nada menos que Caroline Graves, fugindo de um cativeiro onde era mantida sob hipnose. Como dito acima, os dois nunca se casaram, mas cultivaram um relacionamento que teve apenas uma ruptura temporária de 3 anos. Caroline esteve junto de Collins desde 1858 até a morte do escritor em 1889.
O acontecimento rendeu o primeiro dos quatro grandes romances de Collins, que tornou o escritor um dos mais famosos romancistas de todos os tempos. A Mulher de Branco, publicado em 1860, é considerado um romance de sensação e à frente do seu tempo, contendo múltiplos narradores e com Wilkie Collins aplicando a filosofia do Direito para dentro da obra autobiográfica.
A Pobre Senhorita Finch
William Wilkie Collins teve uma vida boêmia, regada a boa comida, vinho e roupas extravagantes. Nada que nos surpreenda a essa altura do campeonato. Entretanto, a vida cobrou um preço alto pelo seu descaso com a saúde.
Collins desenvolveu problemas respiratórios e cardíacos. Para sanar a dor, fez uso láudano, um medicamento à base de ópio. Todavia, o uso excessivo do remédio que aliviava o seu sofrimento também lhe desenvolveu a cegueira. Mesmo com todas as dificuldades, Collins não se rendeu e, mesmo sem enxergar, conseguiu escrever grandes obras junto de sua secretária. Por esse motivo, o livro A Pobre Senhorita Finch é tão especial. O livro, além de trazer à tona uma protagonista com deficiência visual, também a caracteriza como obra autobiográfica.
O romance é narrado pela francesa Madame Pratolungo. Ela vai para interior da Inglaterra ser cuidadora de uma menina cega chamada Lucilla. A cuidadora é quem ajuda Miss Lucilla Finch a determinar o certo e errado e a desempenhar os seus ideais revolucionários demais para a época. Lucilla se apaixona por um rapaz chamado Oscar. O amor é recíproco. Entretanto, Nugent, o irmão gêmeo do amado, conhece Lucilla e pode devolver a visão para a menina.
O romance se desenvolve em volta do triângulo amoroso e da cegueira de Lucilla. Por mais intenso que esse resumo possa parecer, A Pobre Senhorita Finch traz uma narrativa leve e bem-humorada. Você também encontra na história um paralelo com a vida polêmica de Wilkie Collins, enfatizando ainda mais essa obra como uma verdadeira autobiografia.
Outros livros de Collins traduzidos para o português
Quem roubou a Pedra da Lua da gaveta de Rachel Verinder?
Um gigantesco diamante amarelo, a Pedra da Lua, primeiro é roubado da Índia, da estátua do deus da Lua; depois desaparece de uma casa de campo em Yorkshire. Quem o roubou? E onde ele está?
Um livro de mistério, que leva os leitores de exóticos templos indianos aos mais elegantes salões ingleses na pista de um preciosíssimo diamante, sobre o qual repousa uma grande maldição. A valiosa joia é dada a bela Rachel Verinder em seu aniversário de 18 anos. Mas, na mesma noite, é novamente roubada, lançando os mais diversos personagens em uma busca repleta de mistério e suspense.
Deixado no testamento de um coronel para sua sobrinha como presente de aniversário, Franklin Blake é encarregado de entregar o diamante, porém, ele leva com a joia a maldição que a acompanha. Quantas pessoas a Pedra da Lua ferirá? Quantos devem morrer antes que a vingança do diamante seja concluída?
Mais sobre o primeiro romance policial da história da ficção
Rachel Verinder, uma dama inglesa, herda um grande diamante indiano em seu aniversário de 18 anos. É um legado de seu tio, um corrupto oficial do exército inglês, que serviu na Índia. O diamante tem um grande significado religioso, além de ser extremamente valioso, e três sacerdotes hindus dedicaram suas vidas para recuperá-lo.
A Pedra da Lua foi publicado em 1868 e é considerado, pela maioria das pessoas, o primeiro romance policial.
O romance é narrado por vários personagens diferentes. O primeiro é Gabriel Betteredge, o criado-chefe da casa Verinder, que se torna um relutante Watson para o detetive Cuff durante a investigação. Ele é um homem convencido da orientação espiritual de Robinson Crusoé e acredita que qualquer interrupção em sua vida pode ser explicada pela leitura e interpretação de passagens de sua cópia amarelada do clássico de Defoe.
Um dos grandes triunfos da ficção do século XIX, A Pedra da Lua é um dos mais importantes romances ingleses, com uma sequência de revelações surpreendentes em direção à revelação da verdade. Nas últimas cem páginas, o leitor não poderá largar o livro por nada.
A Dama e a Lei
A Dama e a Lei traz a história de aléria Woodville, cujo primeiro ato como mulher casada com Eustace foi assinar incorretamente seu nome no registro de casamento, fato considerado por sua tia como um sinal de iminente desgraça. Alguns dias depois, ainda na lua de mel, vários incidentes levaram-na a suspeitar que seu marido lhe escondia um grave segredo, culminando na descoberta de que se casara com ela usando um nome falso. O fato foi seguido pela gradual descoberta de uma série de eventos sobre a vida anterior de seu marido, cada um levando a outro, como um novelo e um emaranhado de enigmas.
Mais sobre A Dama e a Lei
Valéria Brinton casa-se com Eustace Woodville apesar das objeções da família dele, que causam inquietação à sua própria família e aos seus amigos. Quando Valéria descobre que ele se casara com ela usando um sobrenome falso, Eustace recusa-se a discutir o assunto, levando-os de volta para Londres, onde Valéria descobre que ele fora julgado por suspeita de envenenar e matar sua primeira esposa. Sentenciado por um tribunal escocês com veredito de “não provado”, ao invés de “inocente”, implicando sua culpa, mas sem provas suficientes para um júri condená-lo, Eustace, sem suportar o peso da descoberta, abandona Valéria, fugindo para o continente para viver no anonimato. Porém, como amava o marido e acreditava em sua inocência, Valéria luta para provar isso ao mundo. Quem matou a primeira mulher de Eustace? As descobertas de Valéria levam-na a desafiar as autoridades e nos conduzem por um labirinto de pistas falsas e identidades enganosas, até chegar ao culpado.
A última página de Wilkie Collins
As últimas páginas da vida de William Wilkie Collins são tão surpreendentes quanto suas obras. O reflexo de uma vida bem aproveitada cobra um preço alto no capítulo final de sua história. Debilitado por doenças, viciado nos remédios que amenizavam as dores constantes, e dependendo de uma secretária para escrever, o grande autor justifica sua reputação e continua a criar obras-primas.
A década de 1880 foi complicada para Wilkie Collins, tendo que conviver com todas essas complicações. Para piorar a sua frágil saúde, ele sofreu um acidente quando sua carruagem se chocou com outra e ele foi arremessado pela força da colisão, causando ainda mais sofrimento. Posteriormente, teve um grave ataque de bronquite até que veio a falecer em 23 de setembro de 1889. O escritor, como era de se esperar, deixou obras inacabadas que foram publicadas posteriormente.
Entretanto, apesar de ter uma vida extravagante demais para os padrões vitorianos, Wilkie Collins é um dos maiores autores de todos os tempos. Seria o escritor um dos primeiros artistas famosos do mundo com suas excentricidades? Muitas perguntas podem ser levantadas quanto a existência de Collins. Todavia, um ensinamento permeia o legado que o autor inglês deixou: só você pode decidir como as dificuldades te afetam e o que vai fazer para superá-las.