O CASTELO AZUL

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“Ela, que nunca tinha vivido, estava prestes a morrer!”

O Castelo Azul, de Lucy Maud Montgomery, é um romance inesquecível de coragem. Será que Valancy Stirling vai escapar de sua família rígida e encontrar o amor verdadeiro?

Valancy Stirling tem 29 anos, é considerada uma solteirona, e nunca se apaixonou. Vivendo com a mãe autoritária e a tia intrometida, ela encontra seu único consolo nos livros “proibidos” de John Foster e seus próprios devaneios no Castelo Azul, um lugar onde todos os seus sonhos se tornam realidade e ela pode ser quem ela realmente quer. Depois de receber notícias chocantes do médico, ela se rebela contra sua família e descobre um mundo novo e surpreendente, cheio de amor e aventuras muito além dos seus sonhos mais secretos.

“Gosto de homem cujos olhos dizem mais do que os lábios!”

Todos os moradores da pequena Deerwood falavam mal de Barney Snaith. Um forasteiro que havia chegado à cidade e comprado uma pequena ilha e de quem nada sabiam. Mas todos diziam que ele era um fugitivo da polícia, um funcionário de banco caloteiro, um assassino, um infiel, um filho ilegítimo do maior bêbado da cidade, o pai de uma criança ilegítima, um fingido, um falsificador, e algumas outras coisas horríveis. Mesmo assim, Valancy não acreditava que ele fosse mau. Ninguém com um sorriso daquele poderia ser mau, não importa o que tivesse feito. Quando ela recebe a notícia de que só teria mais um ano de vida, pede a ele que se case com ela por pena.

As obras de Lucy Maud Montgomery são como espelhos

“A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida”, disse sabiamente o escritor irlandês Oscar Wilde, e repetimos centenas de vezes, pois é uma verdade “universalmente conhecida”. Antes de falar em que se inspirou a autora para compor O Castelo Azul, falaremos sobre a influência que O Castelo Azul exerceu em autores contemporâneos. Ao ler esta obra, lembrei-me imediatamente de As Moças de Missalonghi, ou As Senhoras de Missalonghi em outra tradução, da romancista Colleen McCullough, autora também de Pássaros Feridos e tantos outros.

O Castelo Azul poderia se chamar As Moças de Missalonghi ou vice e versa, pois o roteiro é o mesmo. “Não tão bonita como a prima Alicia, nem tão dominadora como a mãe Drusilla, Missy parece condenada a uma vida solitária e de pobreza em Missalonghi, a pequena propriedade da família nas Montanhas Azuis da Austrália. Mas Missy está prestes a colocar para trabalhar todas as línguas hipócritas da cidade de Byron, pois ela acaba de pôr os olhos sobre um desconhecido misterioso…” Este é um trecho de As Moças de Missalonghi. Para O Castelo Azul mudaremos apenas os nomes próprios:

“Não tão bonita como a prima Olive, nem tão dominadora como a mãe Amélia, Valancy parece condenada a uma vida solitária e de pobreza na pequena propriedade da família em Muskoka, Ontário, Canadá. Mas Valancy está prestes a colocar para trabalhar todas as línguas hipócritas da cidade de Deerwood, pois ela acaba de pôr os olhos sobre um desconhecido misterioso…”

Os enredos são idênticos. Em As Moças de Missalonghi, Missy, por engano, recebe o prognóstico de que morreria em cerca de um ano e propõe casamento para o enigmático desconhecido que chegou à cidade de Byron. E o que acontece em O Castelo Azul? O leitor verá por si mesmo. Lembrando que a obra de Lucy Maud Montgomery é a original e a de McCullough surgiu muitos anos depois. As Moças de Missalonghi então é uma cópia de O Castelo Azul? Não estou afirmando isso, mas certamente McCullough leu O Castelo Azul, pois há uma notável semelhança entre as duas obras. Ou o dono das ideias “enlouqueceu” e as distribuiu por aí sem qualquer coerência. Tudo isso é apenas curiosidade sobre as leituras que fazemos e a percepção das influências de um autor sobre o outro; que podem ser conscientes ou até mesmo inconscientes. Mas que não deixam de ser notórias.

Voltando a Lucy Maud Montgomery, mais uma vez deparamo-nos com uma obra dela que, para quem não conhece a triste vida da autora, poderia passar despercebida como um lindo e doce romance de uma jovem subjugada por uma tradicional família autoritária, composta por pseudocristãos anglicanos. Mas, claramente, este é mais um livro que traz muito da vida da própria autora.

Que ela teve uma infância reprimida, solitária, povoada por amigos e locais imaginários, todos nós sabemos, basta ler sua série autobiográfica Emily. Porém, pouco se fala sobre a triste juventude de Maud. Quando ela criou sua série mais famosa, Anne de Green Gables, por exemplo, ela estava muito deprimida.

Em O Castelo Azul, quando ela escreveu: “Ser obrigada a ficar sentada quando a agonia mental nos incita a andar para cima e para baixo é o refinamento da tortura!” e “Não existe liberdade na terra… apenas diferentes tipos de escravidão”, expressava não só o que a adulta Maud pensava, já na casa dos seus cinquenta anos, mas, sobretudo, o que a jovem Maud havia vivido em seus longos períodos “trancada” em casa e cercada pela neve.

A vida amorosa de Lucy Maud Montgomery também tem alguns capítulos que podem ter inspirado O Castelo Azul. Sua paixão por Herman Leard, que sua tradicional família não aprovava, é um exemplo. Herman Leard, pelo que sabemos sobre sua personalidade, tem muito do herói Barney Snaith de O Castelo Azul.

Quando lecionava em Bideford, uma pequena vila ao norte da Ilha do Príncipe Eduardo, Maud conheceu Edwin Simpson e concordou em se casar com ele. Embora ela não o amasse, Edwin a achava inteligente e bela, eles compartilhavam o amor pela literatura e ela o respeitava como igual. No ano seguinte, entretanto, ela foi dar aula em Lower Bedeque e conheceu a família Leard e Herman Leard, o filho mais velho e o primeiro homem que ela realmente amou. Ela não contou a Herman sobre seu noivado com Edwin e, embora soubesse que estava errada, passou muito tempo com os dois. Quanto mais perto ela estava de Herman, mais ela o amava, porém, sabia que nunca poderia se casar com ele, pois, segundo a família de Lucy, Herman não era digno dela. Ele, tampouco, era o ideal romântico que ela tinha quando jovem e, sobretudo, jamais seria aprovado por sua tradicional família. A vida deles juntos seria uma luta pela sobrevivência, ela também o via como um fazendeiro sem instrução e abaixo de sua condição social.

Herman Leard

Em março de 1898, após a morte súbita de seu avô, Maud voltou para Cavendish a fim de ajudar sua avó a administrar a agência dos Correios. No mesmo mês, ela escreveu para Edwin e oficialmente terminou o noivado. Convencida de que estava com Herman, Maud fez uma viagem para Lower Bedeque para visitar os Leards. Assim que viu Herman, ela soube imediatamente que seus sentimentos não tinham mudado e que ela ainda o amava profundamente.

Sim, Montgomery viveu seu grande amor. Este trecho em seu diário sobre Herman Leard mostra que esse amor foi intenso: “Herman de repente inclinou a cabeça e seus lábios tocaram o meu rosto. Eu não posso dizer o que me possuía, eu parecia dominada por um poder totalmente fora do meu controle. Eu virei minha cabeça e nossos lábios se encontraram com uma pressão muito apaixonada, um beijo de fogo e um arrebatamento que eu nunca tinha experimentado ou imaginado. Os beijos de Ed (Edwin) me deixavam fria como gelo, mas a chama do beijo de Herman mexia com todas as fibras do meu ser”.

Num Canadá àquela época, o sexo pré-marital era raro no caso das mulheres. Montgomery tinha sido criada em uma rigorosa casa presbiteriana, onde lhe ensinaram que todos os que pecavam em fornicação estavam entre os malditos que queimariam no inferno. Apesar da educação, Montgomery frequentemente convidava Herman Leard para o quarto dela quando todo mundo estava fora, embora (supostamente) continuasse virgem. Montgomery se referiu a Leard em seu diário como “um jovem animal muito bonito e atraente, com olhos azuis magnéticos”.

Após as objeções de sua família e seus amigos, com a justificativa de que Leard não era “bom o suficiente” para ela, Maud interrompeu o relacionamento e, enquanto ela estava em Cavendish, Herman morreu após uma longa gripe. Quando ela soube de sua morte, ficou tão perturbada que desejou sua própria morte. Ela também escreveu em seu diário: “É mais fácil pensar nele morto, todo meu na morte, como ele nunca poderia ser meu na vida, pois nenhuma outra mulher poderia ter o seu coração ou beijar seus lábios”.

Maud viveu uma infeliz existência em Cavendish nos anos seguintes. Mas escondeu sua dor, trabalhou duro e dedicou pelo menos uma hora ou duas por dia à escrita.

O Castelo Azul era o castelo da imaginação de Maud?

A obra traz muito da própria autora. O desejo de se rebelar contra os rígidos avós, a sociedade, as correntes da religião e de viver aquilo que ela desejava. A orfandade parcial, extrema solidão, criação rígida; amor pela natureza, amigos imaginários, invenção de histórias etc. Quem leu Anne de Green Gables certamente dirá que estamos falando da ruivinha mais amada da literatura; quem leu sua série Emily dirá que se trata de Emily, mas certamente poderia ser a solitária Valancy de O Castelo Azul.

Lucy Maud Montgomery nasceu em 30 de novembro de 1874 em uma pequena casa amarela na cidade de Clifton (agora Nova Londres) na Ilha do Príncipe Eduardo, no Canadá. Sua mãe era Clara Woolner Macneill, uma jovem de 21 anos, e seu pai era um comerciante de 33 anos chamado Hugh John Montgomery. Pouco depois de dar à luz, Clara adoeceu com tuberculose. Quando ficou claro que sua esposa estava muito doente para cuidar de uma criança, Hugh John levou a família para a casa dos sogros em Cavendish, uma pequena comunidade agrícola na costa norte da Ilha do Príncipe Eduardo. Mesmo com os cuidados médicos e com a mãe como sua enfermeira, Clara sucumbiu à doença em 14 de setembro de 1876, aos 23 anos. Maud ainda não tinha dois anos de idade quando sua mãe morreu; ainda assim ela carregava uma forte lembrança da mãe.

A história de vida de Maud é “um conto de desvantagens, superação, despedidas e talento de uma artista sofredora que continuou escrevendo através de sua dor”. Uma criança sensível que nunca sentiu que recebeu amor ou apoio suficientes. Após a morte da mãe, ela foi criada pelos avós, Alexander e Lucy Macneill, ambos severos e emocionalmente distantes. Como estudante prodigiosa, ela encontrou aceitação e encorajamento através dos estudos. Seu pai, Hugh John, vendeu os negócios em Clifton e instalou-se em Saskatchewan. Os avós, que já haviam criado seis filhos, tinham pouca paciência para cuidar de uma criança rebelde e emotiva. “Ela não tinha os pais para lhe proteger, não tinha conforto e, muitas vezes, sentia-se como uma estranha dentro de sua extensa família, como se fosse um encargo, um dever familiar. Ela foi provocada e criticada por tias, tios e primos”. Era uma alma solitária. Embora seu pai estivesse vivo durante os primeiros 26 anos de sua vida, ela era praticamente órfã.

Por um ano, quando Maud tinha quinze anos, morou com seu pai, a madrasta e seus dois filhos em Prince Albert, Saskatchewan. Foi uma época difícil para Maud. Ela não se deu bem com a jovem esposa de seu pai, Mary Ann, e foi forçada a abandonar a escola por dois meses para cuidar de seu irmão e irmã por parte de pai. Mas foi enquanto ela estava em Saskatchewan que conseguiu ser publicada pela primeira vez. Maud enviou um poema ao Daily Patriot, o jornal da capital da Ilha do Príncipe Eduardo, em Charlottetown. O poema, chamado On Cape Le Force, era baseado em uma história local da ilha do Príncipe Eduardo.

A saudade a levou de volta a Cavendish depois de um ano com o pai, mas naquela época já tinha publicado trabalhos no Montreal Witness, bem como no Prince Albert Times local e no Charlottetown Daily Patriot. Quando ela voltou para casa na Ilha do Príncipe Eduardo, escreveu um artigo sobre sua viagem a Saskatchewan, que foi publicado pelo Daily Patriot.

No final de 1901, um dos primos de Maud, Prescott Macneill, concordou em morar com a avó Macneill para que Maud pudesse seguir carreira de jornalista na Nova Escócia. No ano seguinte, Maud estava realmente feliz trabalhando em Halifax como revisora substituta para os jornais Morning Chronicle e The Daily Echo.

A carreira e o casamento de Lucy Maud Montgomery

Em 1903, um tal Reverendo Ewan MacDonald tornou-se ministro da Igreja Presbiteriana de Cavendish. Logo Ewan e Maud aproximaram-se e, em 1906, ele propôs casamento para ela e ela aceitou. Mas Maud continuava a escrever. Sua grande paixão sempre foi a escrita.

Em 1906, quatro editoras rejeitaram Anne de Green Gables e Maud escondeu o manuscrito em uma caixa de chapéu e continuou escrevendo poesia e artigos. Dois anos depois, a LC Page Co. em Boston publicou Anne de Green Gables.

Em 9 de março de 1911, a avó Macneill morreu e Maud se casou com Ewan. Foi em frente à lareira da sala de estar em Silver Bush que Maud e Ewan se casaram em 5 de julho de 1911.

Ewan MacDonald

O reverendo MacDonald não era especialmente inteligente nem interessado em literatura como Montgomery. Ela chegou a escrever em seu diário: “Eu não o desejaria como amante, mas espero que eu possa encontrar nele um amigo”. Depois de seu casamento, Montgomery e o marido passaram a lua de mel na Inglaterra e na Escócia, sendo esta última um ponto de interesse particular para ela, pois a Escócia era para ela o “Velho País”, a terra romântica dos castelos e das montanhas, lagos e cachoeiras, a terra natal de seus ancestrais. Em contrapartida, os pais do reverendo MacDonald tinham ido para o Canadá depois de terem sido expulsos da Escócia e ele não tinha vontade de visitar o lugar. O clã dos MacDonalds era de escoceses de língua gaélica enquanto os Montgomerys e Macneills eram de Lowlanders, de língua inglesa, o que poderia explicar a atitude diferente de ambos em relação à Escócia, com Montgomery mais orgulhosa de sua herança escocesa do que o marido. Além disso, Montgomery havia lido as obras de escritores escoceses como Robert Burns, Walter Scott, Maria Edgeworth e muitos outros. Ewan não lia literatura, então ela teve que lhe explicar quem eram Burns, Scott, Edgeworth etc. Na Inglaterra, visitaram lugares associados aos escritores favoritos de Montgomery, como o Distrito do Lago, famoso por William Wordsworth, a casa de William Shakespeare, em Strattord-upon-Avon e a casa das irmãs Brontës, em Yorkshire.

Maternidade, doenças, problemas conjugais e o consolo da escrita

Montgomery passou por vários períodos de depressão enquanto tentava lidar com os deveres da maternidade, a vida da igreja e os ataques de melancolia religiosa (desordem depressiva endógena) do marido e a deterioração da saúde dele, “para uma mulher que deu ao mundo tanta alegria, sua vida era essencialmente infeliz”.

Em 1918, Montgomery foi atingida pela pandemia da gripe espanhola – que matou entre cinquenta e cem milhões de pessoas em todo o mundo de 1918 a 1919 – e quase morreu. Ela passou dez dias de cama. Em seu diário, em 1 de dezembro de 1918, Montgomery escreveu: “Toronto estava começando a entrar em pânico durante o surto da terrível gripe espanhola. Os balcões das farmácias estavam recheados de pessoas frenéticas em busca de remédios e segurança”. Ela também escreveu em seu diário sobre estar infectada com a gripe espanhola: “Fiquei de cama por dez dias. Nunca me senti tão doente ou fraca na minha vida” e continuou a expressar gratidão a Deus e a seus amigos por ajudá-la sobreviver à provação. A melhor amiga de Montgomery, Frederica Campbell MacFarlane, não teve tanta sorte. Ela morreu da gripe espanhola em 20 de janeiro de 1919. Montgomery ficou tão chateada com o fato de seu marido ter ficado indiferente à morte da amiga, que chegou a pensar no divórcio, algo muito difícil de se obter no Canadá naquela época. Entre 1873 e 1901, havia apenas 263 divórcios no Canadá em uma população de seis milhões. Em última análise, Montgomery decidiu que era seu dever cristão fazer seu casamento funcionar.

A própria conduta do marido levou Montgomery à depressão e ela muitas vezes escreveu que desejava ter se casado com outra pessoa. Também escreveu em seu diário que não podia suportar olhar para o marido quando ele fazia “aquela expressão horrível de imbecil”.

Durante a maior parte de sua vida, a escrita foi seu grande consolo

Em 1920, Montgomery escreveu em seu diário uma citação retirada de um livro do escritor sul-africano Olive Schreiner: “Eu definiria diferentes tipos de amor, incluindo um ‘amor sem sabedoria’, doce como a vida, amargo como a morte, com duração de apenas uma hora”. Essa ideia levou-a a escrever: “Mas vale a pena ter vivido uma vida inteira por aquela hora”. Montgomery também concluiu: “Meu amor por Herman Leard, embora tão incompleto, é uma memória que eu não trocaria por nada, salvo a vida de meus filhos e o retorno de Frede”, referindo-se a sua melhor amiga.

Montgomery acreditava que seus períodos de depressão e suas dores de cabeça e enxaqueca eram expressões de suas paixões românticas suprimidas e o fantasma de Leard assombrando-a.

A escrita manteve Montgomery viva enquanto lutava contra a depressão. Embora tomasse várias pílulas para melhorar o humor, em público apresentava um rosto feliz e sorridente e dava palestras a vários grupos profissionais em todo o Canadá. Ao longo do tempo, Montgomery tornou-se viciada nos brometos e barbitúricos que os médicos haviam receitado para ajudar a tratar a depressão.

Maud e Ewan tiveram três filhos: Chester Cameron, Hugh Alexander e Ewan Stuart. Todos os três filhos nasceram enquanto eles moravam em Leaskdale Manse em Uxbridge, Ontário, onde Ewan foi ministro de 1911 até 1926. Durante esse tempo, Maud escreveu e publicou The Story Girl, seu livro favorito, e sua sequência, The Golden Road; uma coleção de histórias curtas chamada Crônicas de Avonlea, e mais quatro livros sobre Anne Shirley; os dois primeiros livros da série Emily e sua primeira novela para adultos, O Castelo Azul.

O sucesso no mundo da escrita, contudo, não significou uma vida fácil para Maud. Ela experimentou ansiedade e medo com a chegada da Primeira Guerra Mundial e entrou em batalhas judiciais com a LC Page Co. por direitos de reimpressão e retenção de royalties.

Em fevereiro de 1926, seu marido, que também sofria de depressão, aceitou a oferta para ser ministro da Norval and Union, em Ontário. Sua saúde, porém, continuou a se deteriorar e ele foi obrigado a deixar o ministério em 1935. Então, ele e Maud compraram uma casa em Toronto e lá se estabeleceram.

Em 10 de novembro de 1937, durante um discurso feito em Toronto, Montgomery pediu aos escritores canadenses que escrevessem mais histórias sobre o Canadá, argumentando que os canadenses tinham grandes histórias que valiam a pena ser escritas.

Anne de Ingleside, a última novela completa de Maud, foi publicada em 1939. Ela tentou reunir uma coleção de contos em 1940 e tentou escrever uma sequência de seu livro Jane de Lantern Hill, porém esses trabalhos foram interrompidos com a sua morte.

Em 24 de abril de 1942, Montgomery foi encontrada morta na cama em sua casa em Toronto. A principal causa da morte registrada em seu atestado de óbito foi trombose coronária. No entanto, em setembro de 2008, sua neta, Kate MacDonald Butler, revelou que Montgomery sofria de depressão – provavelmente como resultado das décadas que passou cuidando do marido doente – e pode ter tirado a própria vida com uma overdose de remédios.

Um trecho da nota encontrada na sua mesa de cabeceira revelava: “… Fui perdendo a cabeça aos poucos e não ouso pensar no que farei com o que foi perdido. Que Deus me perdoe e que todos os outros me perdoem mesmo que não consigam entender. Minha situação é difícil demais de suportar e ninguém percebe. Que fim para uma vida em que tentei sempre fazer o meu melhor”.

Uma explicação alternativa a esse documento é fornecida na biografia de 2008 de Mary Henley Rubio, Lucy Maud Montgomery: The Gift of Wings, sugerindo que a mensagem era para ser uma entrada de jornal, em vez de uma nota de suicídio.

Seu funeral foi realizado em Green Gables e ela foi enterrada no cemitério de Cavendish. Seu marido, Ewan, morreu no ano seguinte, em 18 de dezembro de 1943.

Embora haja indícios de que a autora que criou a heroína da felicidade tenha se suicidado, como defendido por sua neta, nada foi comprovado. A biografia de 2008 de Mary Rubio relata apenas o diário da autora, que ela chamava de: “livro de murmúrios” e via como um espaço seguro para transmitir suas frequentes decepções e queixas. Mas ninguém tem certeza da verdade. Mary Rubio, entretanto, também sugere que Montgomery e Virginia Woolf (que sofria de depressão severa e cometeu suicídio) compartilhavam muitas semelhanças, especialmente com relação aos papéis que desempenharam na capacitação das mulheres no século XX. A biografia de Rubio revela uma autora que estava bem ciente de sua celebridade e seu status como modelo. No entanto, como muitas mulheres escritoras, ela muitas vezes experimentou sentimentos contraditórios sobre a fama e suas demandas e, ao mesmo tempo em que se ressentia por ter que viver de acordo com aquilo que era esperado da esposa de um ministro, como celebridade feminina internacional apreciava o impacto que exercia sobre seus leitores.

Em The Gift of Wings, Rubio cita uma matéria que saiu num jornal, em 1922, de um texto escrito por Montgomery para a posteridade: “Eu vivi cem anos antes de você, mas meu sangue corre em suas veias. Eu vivi, amei e sofri; apreciei, trabalhei e lutei exatamente como você faz. Eu achei a vida boa, apesar de tudo. Você pode pensar assim. Descobri que a coragem e a bondade são as duas coisas essenciais. Elas são essenciais tanto em seu século como no meu… Espero que você seja alegre, espirituosa, corajosa e sábia; e espero que você diga a si mesmo: ‘se a bisavó vivesse hoje, acho que eu gostaria dela, apesar das falhas’”. Embora aparentemente escrita para uma jovem do futuro, a nota parece ser direcionada também para as gerações posteriores de leitores, especialmente para leitoras. Montgomery desejava que a memória de suas qualidades individuais: seu espírito corajoso, sua gentileza e até mesmo suas falhas pudessem sobreviver ao lado de suas criações literárias. Desde que Montgomery percebeu que suas obras seriam publicadas, ela planejou garantir que a autora adulta fosse lembrada.

Em vida, Maud viu vinte romances seus publicados, entre eles O Castelo Azul, e escreveu centenas de poemas, artigos e contos.

O Castelo Azul é um romance de 1926. A história se passa no início da década de 1920 na cidade fictícia de Deerwood, localizada na região de Muskoka, em Ontário, Canadá. Deerwood é baseada em Bala, Ontário, que Montgomery visitou em 1922. Mapas das duas cidades mostram semelhanças. Este romance é considerado uma das poucas obras adultas de ficção de L.M. Montgomery, junto com A Tangled Web, e é o único livro escrito por ela que se passa inteiramente fora da Ilha do Príncipe Eduardo.

Sua popularidade cresceu desde que foi republicado em 1990. O livro foi adaptado para o palco duas vezes: em 1982, foi transformado em um musical polonês de sucesso e, dez anos depois, o dramaturgo canadense Hank Stinson escreveu outra versão, The Blue Castle: A Musical Love Story.

O Castelo Azul é exclusivo de www.clubedeleitorespedrazul.com.br. Foi um brinde na caixa Holanda.

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